Faz tempo que venho pensando em falar sobre isso e acho que chegou a hora, porque olha: tô cansada. E acho que vocês também estão.
Tenho visto três comportamentos extremamente irritantes ultimamente, tanto na infernet internet quanto fora dela:
1. Mania de levantar bandeira pra tudo
2. Falta de empatia com os outros
3. Criticar tudo.
E qual é a parte mais mala disso tudo? É que esses três comportamentos vem de pessoas com pensamento raso, que nem tiram um minuto pra pensar sobre o que estão dizendo e saem distribuindo seus comentários insensatos e raivosos mundo afora.
Tenho notado isso relacionado a vários eventos recentes, como o resgate dos beagles do Instituto Royal, o acidente dos porcos do Rodoanel, a discussão sobre a legalização do aborto no Brasil e agora, nesse final de semana, os atentados terroristas em Paris.
Explico.
Quando dezenas de voluntários se organizaram pra resgatar os beagles, houve uma enorme comoção porque muita gente até então não tinha noção de como eram tratados os animais de laboratório. É fácil falar que, em nome da segurança das pessoas, os medicamentos e cosméticos devem ser testados em animais, não é? Mas quando o preço da desinformação e da futilidade vem à tona, todo mundo se choca. E o comentário mais imbecil que eu li sobre esse resgate foi: "Do que adianta irem resgatar os cachorros, se os ativistas não são veganos?"
Sério.
Que diferença faz para aqueles cachorros se os ativistas são veganos? Eles salvaram a vida de dezenas de cachorros condenados a sofrer por anos em um maldito laboratório, tiraram esses animais de lá e deram a eles a chance de uma vida normal, cercados por uma família amorosa, com uma casa decente sobre suas cabeças, cuidados veterinários e carinho. Veganismo é importante sim, mas qual a relação entre uma coisa e outra?
Sobre a questão dos porcos do Rodoanel, não vou dizer mais nada porque a
Leticia escreveu o texto mais sensato que eu li sobre o assunto e eu assino embaixo.
Aí, quando se fala sobre a questão do aborto, a gente parece cair num buraco sem fim de discussões, teorias, crenças e gente intolerante. Deixando uma coisa bem clara: sou a favor da legalização sim. O que não é a mesma coisa de ser a favor do aborto. Legalizar aborto não significa que ele será usado no lugar de métodos contraceptivos; isso não acontece em nenhum dos países onde ele é legalizado. Acontece que, como advogada, eu vejo todos os dias que a Justiça é lenta, burra, cega, surda, muda e estúpida. Não importa o que a Lei diz, porque a Justiça funciona mal. Mas MUITO mal. Vocês acham que toda mulher agredida sexualmente consegue comprovar isso na Justiça? Vocês acham que todo processo é julgado a tempo? É mais provável que, quando o juiz finalmente se dignar a dar a sentença concedendo o abortamento, a criança já tenha três anos de idade OU a mulher já tenha morrido em decorrência de um aborto clandestino. Toda mulher é uma vítima em potencial, mas o que eu mais vejo é gente sem noção (e normalmente mulheres!) dizendo coisas do tipo: comigo nunca vai acontecer, eu não ando sozinha à noite na rua, não uso roupas provocantes então não chamo a atenção de agressor; eu jamais abortaria mesmo se não quisesse o filho; é só ter a criança e entregar pra adoção; e mais uma vez as vítimas são as culpadas e as mulheres são tratadas como bruxas que devem ser queimadas na fogueira porque não tem coração e são capazes de matar seus filhos que não tem chance de se defender.
Empatia zero. Nem toda agressão é comprovada, nem toda mulher tem como se defender, nenhum método contraceptivo é infalível e nem toda mulher nasceu pra ser mãe. Os americanos tem um ditado popular que diz que você não pode julgar uma pessoa antes de calçar os sapatos dela e andar uma milha com eles. Você acha errado? Não faça. Mas não julgue os outros, porque você nunca vai saber a situação inteira.
É justo?
Os atentados terroristas em Paris que aconteceram dias atrás mataram mais de 100 pessoas, deixaram outras incontáveis em choque e despertaram a solidariedade do mundo todo. Onde já se viu sair de casa pra se divertir e não voltar nunca mais, tudo por obra de uns cretinos malucos que se julgam no direito de sair dando tiros de metralhadora em pessoas inocentes? Não vejo como não se sensibilizar com a dor dessas famílias que perderam seus entes queridos nesse ato horrendo. Aí de novo vem os chatos levantadores de bandeira gritando ao mundo que é um absurdo mostrar solidariedade à França mas não ao desastre ambiental ocorrido em Mariana nessa mesma semana, que destruiu o ecossistema local e deixou milhares de pessoas desabrigadas e sem água potável.
De novo: o que tem uma coisa a ver com a outra? Botar a bandeira da França na sua foto do Facebook não significa que você não liga para o que aconteceu em Mariana. Aliás, se o Facebook houvesse disponibilizado a bandeira de Minas também, zilhões de pessoas teriam aderido. Quem tá aí criticando as fotos com bandeira francesa, fez alguma coisa pra ajudar as vítimas de Mariana? Foram lá ajudar as pessoas e animais, doaram água, alimentos, remédios? Acho que não, né?
Então, gente, acho que o negócio é o seguinte: menos julgamento, menos reclamação e mais atitude. Abrir a mente e os ouvidos pra opiniões diversas nunca matou ninguém. Guardar suas opiniões ao invés de esbravejá-las como verdades absolutas também não. Colocar uma bandeira na sua foto de perfil é algo maravilhoso porque demonstra que a humanidade se uniu em solidariedade às vítimas de um ato cruel e insano, mas não define quem você é. Você não sabe o que os outros fazem quando ninguém está olhando e sair cuspindo julgamentos não ajuda ninguém.
Uma coisa não exclui a outra.
Demonstrar amor nunca é demais.