quinta-feira, 30 de junho de 2016

O Zahir - Paulo Coelho

Uma confissão: comecei a ler Paulo Coelho porque estava intrigada com o fato de ver a mídia bombardeando o escritor com uma saraivada de críticas a cada novo livro e esses mesmos livros constando sempre nas listas de mais vendidos. Então qual o melhor jeito de descobrir a mágica por trás disso? Lendo.




O Zahir conta a história de um homem, escritor famoso assim como o autor, casado com Esther, jornalista e correspondente de guerra. Depois de dez anos de relacionamento, Esther misteriosamente desaparece, levando apenas dinheiro, alguns objetos pessoais e seu passaporte, provavelmente acompanhada de Mikhail, um rapaz mongol que ela havia conhecido há alguns meses durante seu trabalho.

A princípio sem ter qualquer pista do paradeiro de Esther, o narrador tenta superar sua perda de várias formas: cai em desespero, se sente sozinho, se sente livre, tenta se conformar, e começa a namorar Marie, uma atriz que amava outro homem, que não a amava.

Esther havia sido a grande incentivadora da carreira do marido. Alguns anos antes de desaparecer, ela o havia obrigado a percorrer o Caminho de Santiago, fato que deu origem ao seu primeiro livro e ao estrondoso sucesso de vendas que veio depois. Sentindo que ainda a ama tanto, mesmo namorando Marie, o narrador mais uma vez se vê obrigado a partir em uma longa caminhada por causa de Esther: dessa vez, para encontrar a esposa, ele precisa antes encontrar a si mesmo.


Esther é o Zahir do narrador - algo que, uma vez conhecido, passa a ocupar todos os seus pensamentos. Mesmo distante, em um lugar desconhecido, sem se comunicar ou enviar notícias, Esther parece nunca ter estado tão próxima de seu marido, porque é durante a ausência dela que ele irá recapitular toda sua história, e toda a história deles, e passará a entender todas as transformações pelas quais ela havia passado durante o tempo em que estiveram juntos. Assim, entenderá também por que ela partiu, e o que ele devia fazer para evitar repetir os mesmos erros.


Essa foi a terceira vez que eu li O Zahir e encontrei um fato interessante que uma amiga já havia me relatado anteriormente em relação aos livros de Paulo Coelho: a cada vez que você lê, tem uma interpretação diferente.


Em sua jornada para reencontrar Esther, o narrador, com ajuda de Mikhail, começa a ir aos lugares em que a esposa costumava ir e encontrar as pessoas com quem ela costumava estar. Durante todo o tempo em que estiveram juntos, ele nunca havia se interessado em ir com ela. E assim ele conhece um grupo que conta histórias de desamor num restaurante armênio, um bando de jovens de aparência agressiva que contraria as normas não escritas da sociedade, mendigos que vivem nas ruas de Paris e se entendem mais livres do que qualquer outra pessoa.


O conto dentro do conto: essa é a minha parte preferida de O Zahir. Pode estar relacionada à velha máxima de que o que é pra ser seu, será; pode se referir a generosidade; pode ser sobre espalhar o amor pelo mundo - um dos pontos centrais do livro.


Outro dia li em um blog sobre livros que as pessoas costumam rejeitar histórias de traição. Particularmente, eu acho uma enorme falácia o narrador insistir tantas vezes na ideia de relacionamentos abertos e questionar se realmente o amor deve se direcionar a somente uma pessoa - acho que ou você quer um relacionamento monogâmico e se dedica de verdade a ele, ou fique solteiro e não machuque gente inocente. Por outro lado, dá pra gostar de Marie e torcer por ela: Marie ama o narrador, o vê obcecado pela esposa, pensando e falando dela o tempo todo, e decide apoiá-lo a tentar reencontrá-la, porque acha que ele é uma pessoa por quem vale a pena lutar e que é impossível conviver com o fantasma de uma mulher que partiu.


O Zahir é uma história de amor, perda, generosidade, renúncia e libertação. É um livro muito interessante e eu já começo a pensar o que mais vou encontrar nele quando reler pela próxima vez...

Vocês já leram? O que acharam?