Sobre The Bling Ring e coisas bem irritantes

A minha primeira impressão sobre o filme The Bling Ring: A Gangue de Hollywood foi tão ruim que quase não virou resenha, mas passadas algumas considerações, achei que valia a pena falar dele pra vocês.

Atenção: pode conter spoilers.

O filme tem uma hora e vinte de duração e posso afirmar que a primeira hora foi a coisa mais irritante que eu já assisti na vida. Então, se você compartilha comigo da mesma falta de paciência com adolescentes - principalmente adolescentes a quem falta uma pia cheia de louça pra lavar, que vivem de desprezar os pais e tirar fotos com o celular fazendo duck face pra depois postar nas redes sociais acompanhadas de frases esdrúxulas - será também a hora mais irritante da sua vida. Pode acreditar.

The Bling Ring conta a história real de um grupo de adolescentes de classe média/média alta, entediados e com pais ausentes, que vive em Hollywood e passa a invadir casas de pessoas famosas para furtar objetos como roupas, sapatos, bolsas e joias, além de dinheiro. Em seguida, eles usam essas peças em festas exclusivíssimas ou as vendem pra comprar mais roupas, mais sapatos, mais bolsas e pra se drogar. E é isso que acontece durante a primeira hora do filme: eles passam todo esse tempo organizando e praticando os furtos, dançando (mal) sob luzes piscantes, se arrumando em frente ao espelho, soltando milhões de droga! e caramba! a cada peça roubada, fazendo caras e bocas enquanto posam pra fotos e tentando cheirar todo o pó do mundo.

É claro que desde o início a gente sabe que uma hora eles serão pegos pela polícia e que também haverá uma vida depois disso. E é sobre isso que tratam os últimos vinte minutos do filme, e é também o que o faz valer a pena. Ver Hermione Granger Emma Watson sendo cínica e tentando se promover até quando é presa não tem preço.

A impressão que fica é a de futilidade e inversão de valores, porque eles roubavam tentando alcançar o estilo de vida das pessoas a quem idolatravam. E esses ídolos eram pessoas como Lindsay Lohan (que ficou mais famosa por conta dos seus escândalos, como ser flagrada inúmeras vezes dirigindo embriagada e furtar um colar de uma joalheria, do que por seu trabalho como atriz ou cantora) e Paris Hilton (que ganhou fama a partir de uma sex tape e é conhecida por nada além de já ter nascido milionária e pelas roupas que veste). Qualquer semelhança com as leitoras da Lala Rude é mera coincidência. Quando a mãe (também uma alienada, numa tentativa fraca de dar alguns "bons exemplos") de uma das meninas mostra fotos da Angelina Jolie e pergunta o que ela tem que a inspira, ela responde: "o corpo e o marido dela".

Por fim, o que se vê é um retrato muito cru da realidade, repleto de narcisismo, materialismo, futilidade, alienação, idolatria de marcas luxuosas, obsessão pela fama e por celebridades que tem pouco a acrescentar. E, somando tudo, vale muito a reflexão.